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A Busca Incessante pela “Perfeição”

Hoje, na contra partida do último post sobre “Sobre desapego“,  eu decidi falar sobre um dos fantasmas que mais me persegue: a preocupação absurda com a perfeição. Entendo que essa é uma questão um tanto polêmica pois depende muito da percepção de cada um. Afinal: quem define o que é ou não perfeito?

E se nas questões mais corriqueiras da nossa vida já é complicado determinar o que é ou não perfeito, imagine dentro do universo da arte? Como trabalhar nossa criatividade e ainda sim tentar atingir os padrões impostos?

Cerâmica perfeita?

Entrando mais especificamente na área em que eu atuo, a cerâmica, existem algumas convicções um pouco deturpadas que devemos tentar desconstruir na nossa cabeça. Uma das principais questões é o fato de que, após tantos anos em contato com produtos industrializados – aquela famosa louça branca que vemos em todos os lugares – criamos o conceito de que aquele é o alvo a ser atingido. Esse é que é o modelo perfeito.

O que não consideramos é que essa é uma prática higienista que valoriza o padrão e desconsidera o gesto do artista e as variações tão ricas geradas pelo trabalho manual. Entendo que é importante que eu fale sobre esse ponto, não apenas para explicar algumas questões do nosso trabalho, mas também para tentar mudar um pouco essa percepção que pessoas têm.

Além disso, falar sobre esse ponto é também uma forma pessoal de internalizar esse conceito, uma vez que assim como vocês, eu também cresci nesse mundo pós revolução industrial onde o trabalho das máquinas muitas vezes é mais valorizado do que o trabalho humano.

 

Coleção de peças orgânicas – Ateliê Marte, 2021

“Defeitos” perfeitos

Foi a partir do momento em que comecei a trabalhar profissionalmente com cerâmica e arte que aprendi que o perfeito é um conceito maleável. Ela está, realmente, nos olhos de quem vê e muitas vezes uma peça com manchas e escorridos é tão maravilhosa e única que ninguém ousaria a dizer que não é “perfeita”.

Para atingir esses resultados existem diversas técnicas que ajudam a exaltar os amassados, escorridos e as linhas não tão lineares em uma peça cerâmica. São técnicas que vão desde a mais rudimentar e ancestral até as mais complexas que exigem conhecimento técnico preciso e elevado.

Cada um com sua cobrança

Para mim, foi difícil no início compreender alguns resultados finais do meu trabalho. Me cobrava muito e perdia o sono quando o esmalte escorria, quando a peça não ficava perfeitamente redonda, quando o fundo ficava mais fino que deveria. Entretanto, com o tempo passei a perceber que a beleza da cerâmica artesanal está exatamente nesses detalhes. Cada peça é única e ela conta individualmente a história do ceramista e do local em que foi concebida.

Tela “Alma Livre” – Ateliê Marte, 2021

E nas artes plásticas?

Nas artes plásticas vale essa mesma ideia. As manchas imperfeitas, os traços fora de compasso ou um escorrido inesperado são elementos que, muitas vezes, formam a identidade da obra e do artista.

Esses são os aspectos que nos diferenciam das máquinas que criam peças tediosamente iguais sempre.

Nosso gesto, nossa história e nosso humor marcam as peças e é essa a verdadeira perfeição.

4 comentários sobre “A Busca Incessante pela “Perfeição”

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